Curitiba comemora 331 anos em 2024. Para celebrar, Gazeta do Povo, A.Yoshii e Elo Empresas apresentam uma série de conteúdos que destacam por que a capital paranaense é a cidade mais inteligente do mundo. Conheça as inovações em mobilidade urbana que tornam Curitiba referência mundial.
Em 2024, faz 50 anos que os primeiros ônibus expressos começaram a circular por Curitiba, em suas vias exclusivas. A partir desse projeto, o arquiteto, urbanista e político Jaime Lerner criou o modelo BRT (sigla para Bus Rapid Transit ou ônibus de trânsito rápido, em português). O modelo seria "exportado" para dezenas de cidades e países, fazendo da capital paranaense uma referência mundial em mobilidade urbana.
Porém, quando falamos em mobilidade urbana, é importante entender que ela vai além de um modelo de transporte coletivo. Ela está relacionada a todos os meios pelos quais as pessoas se deslocam pela cidade e às formas como o próprio espaço urbano se organiza — o que, por sua vez, determina a necessidade e características dos deslocamentos.
Sendo assim, Curitiba se tornou uma referência não somente por seu modelo inovador de transporte coletivo, mas também por seu pioneirismo no planejamento urbano, que modificou a própria forma como o espaço urbano se organiza para privilegiar esse modal.
Entretanto, meio século depois dessas criações revolucionárias que tornaram a cidade famosa nacional e internacionalmente, muitas novidades surgiram — assim como novas demandas de mobilidade urbana. Nesse cenário, é interessante questionar se Curitiba consegue manter sua posição na vanguarda da mobilidade urbana.
Adiantamos que é complicado trazer uma resposta definitiva para essa pergunta. Contudo, é um fato que a cidade está investindo para trazer inovações e manter-se na vanguarda.
Série de Conteúdos 331 Anos: entenda por que Curitiba é a cidade mais inteligente do mundo.
Como a mobilidade urbana de Curitiba se tornou uma referência
Ainda que os ônibus biarticulados e as estações-tubo sejam as características mais marcantes do sistema de transporte público de Curitiba, ele não se tornou reconhecido no mundo inteiro apenas por isso. Nem pela circulação em vias exclusivas, que já existia em outras cidades até antes de 1974, quando as primeiras linhas expressas foram inauguradas.
Podemos dizer que Curitiba se tornou uma referência pelas diversas soluções de planejamento urbano que implementou ao longo dos anos, para privilegiar o transporte coletivo além dos automóveis particulares.
Para começar, o embarque em nível e com o pagamento antecipado da passagem é uma das características mais importantes do sistema BRT. Assim, o deslocamento dos ônibus entre as estações se torna muito mais rápido — e o modal se torna mais atrativo, principalmente nos horários de maior movimento.
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Ainda mais importante que isso é o sistema trinário, com a criação de eixos de transporte que conectam toda a cidade. No centro do sistema, estão as famosas canaletas para circulação de ônibus, ladeadas por duas vias de mão única para tráfego lento de veículos. As ruas paralelas às avenidas com canaletas — popularmente conhecidas como "rápidas" — escoam o tráfego de automóveis particulares, com uma via em cada sentido.
O zoneamento dos terrenos também foi importante para que esse modelo de mobilidade se tornasse tão importante. Nos eixos de transporte, há prioridade para edificações de uso misto — com comércios e serviços no térreo e residências nos outros andares. Assim, o transporte público se torna ainda mais atrativo e a circulação de pessoas nessas vias é maior.
Essa é uma questão que influencia até mesmo as estratégias das construtoras que atuam na cidade. A A.Yoshii Engenharia, tradicional construtora e incorporadora de Londrina que chegou ao mercado curitibano na década passada, privilegia os terrenos próximos às vias rápidas com maior fluxo de veículos. Afinal, há incentivos no zoneamento para verticalização, com maior densidade de prédios, nesses locais que são mais atendidos pelo transporte coletivo.
Mais do que isso, a eficiência do transporte público influenciou a própria decisão da A.Yoshii de investir no mercado curitibano. A empresa reconhece que a capital é uma referência internacional por suas inovações em transporte público e por políticas de planejamento urbano que priorizam a sustentabilidade e a qualidade de vida. "Certamente, esses aspectos foram levados em conta, pois a A.Yoshii valoriza uma cidade com boa qualidade de vida, infraestrutura eficiente e preocupação ambiental", afirmaram os representantes da construtora à Gazeta do Povo, por assessoria de imprensa.
Para a A.Yoshii, ter o transporte público nas proximidades dos empreendimentos é algo que tem valor tanto para os moradores, quanto para os funcionários. Segundo a empresa, uma grande parte das pessoas que trabalha diretamente nas obras usa o sistema de ônibus, o que contribui para desafogar o trânsito na cidade.
A evolução do sistema de transporte curitibano ao longo das décadas
Posteriormente, a possibilidade de integração entre linhas de ônibus foi outro passo muito importante para o desenvolvimento do sistema de transporte curitibano. Foi nos anos 1980 que surgiram os primeiros terminais de integração — hoje são 22, espalhados por todas as 10 regionais. Nos últimos anos, diversos terminais começaram a funcionar com energia solar, que traz mais um elemento de sustentabilidade para o transporte coletivo.
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Dito isso, com os terminais e a consolidação da Rede Integrada de Transporte (RIT), a cidade trouxe novos modelos de linhas de ônibus para complementar seu modelo. As principais são:
- Os interbairros, que conectam diferentes regiões sem passar pelo centro;
- As linhas diretas ou ligeirinhos, que cobrem grandes distâncias com poucas paradas;
- Os ligeirões, que complementam as linhas expressas, fazendo menos paradas;
- Alimentadores que ligam os bairros aos terminais de integração das regiões;
- Troncais que ligam esses terminais em cada região ao centro da cidade.
Além disso, continuaram existindo as linhas convencionais que ligam os bairros ao centro, sem integração. Mas a existência dessas várias categorias de linhas de ônibus em Curitiba tornou o sistema de transporte muito mais completo.
Quem circula pela cidade provavelmente conhece tudo isso na prática — mas analisar esses detalhes "de fora" é um exercício interessante para compreender como Curitiba conquistou tal posição como referência em mobilidade urbana. Essas características, que existem na capital paranaense há décadas, chegaram a outras cidades apenas no século XXI. Em algumas, ainda são uma novidade.
A necessidade de renovação na mobilidade curitibana
De acordo com o portal BRT Data, que reúne informações sobre o sistema de ônibus rápido no mundo todo, mais de 180 cidades já o adotaram. A maioria dessas implementações se deu no século XXI, depois que a capital da Colômbia, Bogotá, criou seu TransMilenio. Ao todo, mais de 30 milhões de passageiros se deslocam com sistemas de transporte inspirados no curitibano.
A questão é que mesmo com essa aclamação mundial, a mobilidade urbana de Curitiba não é imune às críticas. Inclusive, a principal diz respeito à necessidade de renovações. Para muitas pessoas, a cidade deixou de inovar desde que se tornou referência.
Com isso, o número de passageiros no sistema de transporte curitibano tem caído de maneira substancial. De 1,9 milhão de pessoas em 2008, este número caiu para 1,38 milhão após uma década. Com a pandemia, o número naturalmente caiu mais — e não apresentou uma grande recuperação com o fim da emergência sanitária.
Enquanto isso, Curitiba se tornou uma das capitais com a maior média de carros particulares por habitante do Brasil. Em 2023, já eram mais de um milhão de carros para 1,9 milhão de pessoas — isto é, praticamente um em cada dois curitibanos têm carro. Isso é quase o dobro da média nacional, de 3,5 carros por habitante.
Mas, ao que parece, o poder público parece estar ciente dessa necessidade de renovação e está implementando algumas mudanças, enquanto planeja várias outras.
A Prefeitura realizou um investimento de 6,5 milhões para reformar 120 estações-tubo, com troca de piso e melhorias na acessibilidade, até janeiro de 2024. Nos últimos dois anos, 60% das estações-tubo da cidade foram renovadas. Ao todo, são 338.
A cidade também está investindo em duas outras grandes tendências de mobilidade urbana em nível mundial: a mobilidade ativa e a eletromobilidade.
As novas tendências de mobilidade ativa e eletromobilidade
A principal perspectiva de renovação do sistema de ônibus está nos veículos elétricos, que são mais modernos e confortáveis.
Curitiba foi a primeira cidade do Brasil a fazer testes estruturados com esse tipo de veículo. As pesquisas começaram em abril de 2023, com modelos de quatro marcas: BYD, Eletra, Volvo e Marcopolo. Elas contam com o auxílio do CWBus, um ecossistema de inovação em mobilidade urbana, que busca promover debates sobre o setor.
O objetivo dos testes é saber mais sobre a durabilidade dos ônibus, de seus pneus e baterias. Além disso, é importante entender como será feito o carregamento das baterias e qual seria o impacto disso para o consumo de energia nas garagens.
Com a conclusão dos testes, espera-se que os primeiros ônibus elétricos comecem a circular de forma definitiva por Curitiba ainda em 2024. Eles devem servir às linhas Interbairros I e II, além dos ligeirinhos. Outra linha que deve ganhar ônibus movidos à eletricidade nos próximos anos é o popular Inter 2, que deve ser inteiramente renovado.
Para a implementação desse projeto, a Prefeitura pretende realizar obras de infraestrutura em 28 bairros, que foram divididas em quatro lotes. 38 quilômetros do percurso do Inter 2 serão requalificados, transformando a linha em um BRT que circula por vias exclusivas. Além disso, as estações do novo Inter 2 terão energia solar e serão polos de integração com outros modais — como bicicleta, patinetes, táxis e transporte por aplicativo.
A partir disso, lembramos que é importante investir também em outros modais, com destaque para a mobilidade ativa, a pé ou por bicicleta, essenciais para que as pessoas acessem o sistema de ônibus.
Esses investimentos podem ser vistos no Programa Caminhar Melhor, que está requalificando 100 km de calçadas em Curitiba — a Prefeitura afirma ter concluído 82km de melhorias. E até o final de 2024, 9,5 milhões de reais serão investidos em obras de revitalização e acessibilidade nas calçadas de Curitiba.
Além disso, com a revitalização da Rua Voluntários da Pátria, no centro da cidade, Curitiba tem sua primeira Rua Completa. Esse é um conceito criado por estudiosos e bastante divulgado pela organização não-governamental de planejamento urbano WRI Brasil — e consiste em ter ruas que promovem a convivência e movimentação segura, com foco nos pedestres.
A Prefeitura também estuda a implementação de um VLT (veículo leve sobre trilhos, de menor porte que o metrô) para conectar o Centro Cívico ao Aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana.
Mais do que investir em novos modais, é importante integrar os que já existem, para que atendam melhor às pessoas que precisam transitar pela cidade. Nesse sentido, as estações do novo Inter 2 representam uma grande inovação — com espaço para bicicletas, patinetes e carros de aplicativo, além da promessa de construir calçadas melhores para que os pedestres consigam caminhar até o ônibus.
Ao adotar a eletromobilidade e a mobilidade ativa como complementos ao transporte coletivo, Curitiba se conecta às principais tendências do setor no século XXI. O objetivo é que essas novas ideias convencerão ainda mais curitibanos a retornarem aos transportes públicos.
Próxima leitura: Conheça as iniciativas inovadoras que educarão Curitiba nos próximos 331 anos.